27 de fevereiro de 2012

A indústria midiática da beleza: entre o natural e o artificial


Existem dois aspectos que se opõem: o natural, que é gerado pela natureza, e o artificial, que é construído pelo design humano. Portanto, design é a capacidade humana de materializar idéias através da nossa intenção de transformação

Por Rique Nitzsche, www.administradores.com.br

A internet se transformou em uma plataforma inesgotável de informação, a maioria sem valor ou significado. Com a aproximação do Carnaval se intensificam as supérfluas. Por exemplo, pode-se acompanhar quais celebridades, ou candidatas à fama, acrescentaram algum adendo especial para acentuar nádegas ou seios que serão expostos saltitantes nas novíssimas televisões LED full HD. O distinto público brasileiro acompanha com deleite essa exposição de detalhes íntimos artificiais.
Um renomado casal-celebridade costuma disparar nas vésperas do Carnaval, matérias fictícias que servem para alimentar a imaginação da patuléia. Esses factóides correm pela rapidamente pela internet. Os internautas gostam do bizarro e colaboram para a divulgação da estranheza pela mídia digital. Em 2012, a conhecida destaque de chão da passarela disse que "dessa vez, só coloquei Botox", sem se render aos bisturis antes da celebração, informa o portal G1. "Faço isso porque gosto. Carnaval é tudo para mim", diz a musa que há 14 anos faz intervenções cirúrgicas para aparecer sempre bem nos desfiles.
Mas em um recente pré-carnaval, o casal soltou uma notícia bastante estranha. A loura mundana se submeteria à duas cirurgias plásticas para a retirada provisória dos mamilos e de parte dos grandes lábios vaginais com o propósito de poder desfilar na passarela do samba sem a necessidade de tapa sexo. Provavelmente a notícia não era verdadeira, mas nos faz pensar nos limites entre a razão e da estética.
Segundo o texto de divulgação, não autenticado, a razão da celebridade seria "satisfazer aos meus fãs e realizar o sonho de poder desfilar na avenida sem nenhuma conotação sexual, somente em louvor ao samba e ao meu corpo." Mistura-se nessa suposta declaração várias informações que levam a busca pela estética à beira do delírio. Qualquer sacrifício seria válido para conquistar fama. Inclusive ficar inchada por semanas, selar a abertura vaginal com uma cola especial e guardar partes do corpo em nitrogênio líquido para serem reimplantados posteriormente para gerar um novo ciclo de inchações. O grotesco e a estética ficaram misturados no mesmo pensamento.
Tudo que não é natureza, é design
Herbert A. Simon, laureado pelo prêmio Nobel de economia, disse que existem dois aspectos que se opõem: o natural, que é gerado pela natureza, e o artificial, que é construído pelo design humano. Portanto, design é a capacidade humana de materializar idéias através da nossa intenção de transformação. Nós imaginamos, nós sonhamos, nós desejamos e nós conseguimos transformar a natureza. Quantas vezes você está dentro da sua casa e a única manifestação da natureza é você próprio? Todo o resto ao redor é design, manifesto em paredes, chão, teto e objetos.
No nosso caso carnavalesco, o cirurgião plástico seria o marido cúmplice da doadora do corpo em louvor ao samba. O consorte carinhoso redesenha a natureza da mulher para entrar na história e nas festas dos famosos. O casal pratica o design estratégico comprometido com um planejamento para criar um posicionamento único e diferenciado, gerar notoriedade e ser perpetuado no noticiário.
Chegou o Carnaval e me lembrei dessa matéria. De alguma forma existe uma conexão com o prefácio do lindo livro de Virginia Postrel, The Substance of Style, no qual é contado a história de uma cabelereira de Michigan que foi em 2001 à Cabul, capital do Afganistão recém liberado do Talibã, acompanhando uma missão de apoio internacional. Nas suas próprias palavras: "Quando se espalhou a notícia que havia uma cabelereira no país, eu fiquei loucamente ocupada, fazendo cortes a cada 15 minutos." Mais do que doutores, médicos e dentistas, os afegãos desejavam cortar os cabelos, fazer a barba, pintar as unhas, celebrar esteticamente o final de um ciclo de tirania.
O que essas duas notícias têm para ficarem juntas em um mesma matéria? O cérebro humano se rende à beleza, natural ou artificial. A estética é uma manifestação cultural universal que pode estar entre a repressão religiosa total e a permissividade absoluta, na qual os valores sociais se dobram diante da valorização dos bens materiais, da ostentação, dos prazeres imediatos da moda. Essas duas histórias são representantes extremos da manifestação estética de duas culturas: na primeira, o designer é um cirurgião plástico, na segunda, a designer é uma cabelereira.
A palavra estética foi elaborada pelo filósofo alemão Baumgarten no meio do século XVIII, no início da Revolução Industrial, aquela época na qual a humanidade começou a interferir drasticamente na natureza. A intenção do filósofo era investigar sobre as faculdades sensitivas humanas em gerar beleza, em contraposição ao conceito da lógica racional.
Nem toda prática do design está comprometida com o que conhecemos com estética do bom gosto. Na verdade, a maior parte do design humano é o design da sobrevivência ou da necessidade imediata, um design com pouco planejamento, uma espontânea e imediata manifestação humana e, portanto, não muito estético. Já a natureza, embora às vezes inóspita à sobrevivência do homem, costuma ser percebida como esteticamente bela.
O motivo de juntar essas duas histórias é gerar um pensamento sobre a transformação que a raça humana pretende fazer nesse século que já passou da primeira década. Certamente, podemos avançar para longe, tanto do radicalismo cultural que reprime a estética em busca do controle social, como do culto às celebridades que beiram o ridículo.
Nós queremos mais do que o feijão com arroz do dia-a-dia, mas não precisamos de caviar e champanhe todos os dias. Queremos ser livres para nos transformar de uma forma mais sustentável e prazerosa. Queremos que o artificial, o que é fabricado pelo homem, não agrida a natureza nem a mente das pessoas. Queremos usar produtos e serviços esteticamente emocionantes, sem a culpa de estarmos consumindo mais energia do que o conveniente. Queremos a beleza e o prazer, mas também também deixar uma herança saudável para os nossos filhos. Queremos um mundo estético, porém sustentável.
Rique Nitzsche é design thinker e comanda a criação estratégica da AnimusO2, a primeira empresa brasileira de shopper marketing a usar a metodologia do design thinking, palestrante e responsável pelas disciplinas de design estratégico e design thinking da pós-graduação da ESPM/RJ. 


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